Resumo: A sobrevivência e o crescimento das larvas de peixes durante a ontogenia estão relacionados com a capacidade de se obter alimento adequado, o qual fornece subsídios para que os indivíduos alcancem a vida adulta. A capacidade de forrageamento, a disponibilidade e abundância de presas e o desenvolvimento morfológico, principalmente da capacidade natatória e acuidade visual são fatores preponderantes no sucesso reprodutivo. Analisou-se, os aspectos relacionados à alimentação durante a ontogenia das larvas de peixes de um sistema de planície de inundação, avaliando a capacidade de coexistência e a interação predador-presa. Especificamente os objetivos foram (1) analisar as variações inter e intraespecíficas da dieta de três espécies de peixes invasoras (Auchenipterus osteomystax, Plagioscion squamosissimus e Hypophthalmus oremaculatus) durante a sua ontogenia inicial e a relação com a coexistência; (2) aplicar uma nova abordagem em estudos de ecologia trófica durante a ontogenia, avaliando a interação e organização da rede predador-presa, usando como modelo A. osteomystax. As larvas apresentaram dietas distintas tanto inter, quanto intraespecificamente, baixa sobreposição alimentar a alta amplitude de nicho principalmente para P. squamosissimus. A coexistência das larvas destas espécies é possível provavelmente devido à baixa competição, diferenciação de guildas tróficas, particionamento de recursos e plasticidade trófica. Em relação à rede predador-presa, A. osteomystax apresentou estrutura aninhada, baixa conectância e um padrão de segregação no consumo de recursos. As larvas desta espécie alimentaram-se exclusivamente de insetos aquáticos, com impacto na robustez da rede quando ocorre a remoção de presas mais frequentes na dieta, aqui representada por pupa de Diptera e Chironomidae. A correlação entre variáveis morfológicas e as métricas de redes mostrou que a espécie assume uma posição mais generalista na rede conforme ocorre seu desenvolvimento, aumentando sua capacidade de predação. Ambos os estudos demonstraram a importância de se conhecer a interação espécie-habitat e os processos que regem a captura de presas, evitando a competição inter e intraespecífica através do particionamento de recursos e mudanças comportamentais e de forrageamento durante a ontogenia.
Abstract: The survival and growth of fish larvae during ontogeny are related to the ability to obtain adequate food, providing subsidies for individuals reach the adult age. The foraging capacity, availability and abundance of prey and morphological development, especially swimming performance and visual acuity are important factors in reproductive success. In this study, the aspects related to feeding during the ontogeny of fish larvae from a floodplain system were analyzed, evaluating the coexistence capacity and the predator-prey interaction. Specifically, the objectives were (1) to analyze the inter and intraspecific variations in the diet of three invasive fish species (Auchenipterus osteomystax, Plagioscion squamosissimus and Hypophthalmus oremaculatus) during their initial ontogeny and the relationship with coexistence; and (2) to apply a new approach in trophic ecology studies during ontogeny, evaluating the interaction and organization of the predator-prey network, using A. osteomystax as model. The larvae of invasive fish species had different diets inter and intraspecifically, low diet overlap and high niche breadth primarily for P. squamosissimus. The coexistence of larvae of these species is probably possible due to low competition, differentiation of trophic guilds, resource partitioning and trophic plasticity. Regarding the predator-prey network, A. osteomystax showed a nested structure, low connectivity and a pattern of segregation in resource consumption. The larvae fed exclusively on aquatic insects, impacting the robustness of the network when the most frequent prey in the diet is removed, here represented by Diptera and Chironomidae pupa. Furthermore, the correlation between metric variables and morphological networks showed that the species is of more general position as the network develops, increasing its capacity predation. Both studies demonstrated the importance of knowing the species-habitat interaction and the processes that govern prey capture, avoiding inter and intraspecific competition through resource partitioning and behavioral and foraging changes during ontogeny. |