Resumo: Estudou-se um grupo de adolescentes do abrigo provisório municipal de Maringá - PR que apresentavam comportamento sexual precoce com práticas sexuais consentidas ou não. Neste sentido, seguiram-se as orientações metodológicas de Lukde e André (1986) para o estudo de caso. Os referenciais teóricos foram os estudos de Claudia Fonseca e de Marcelo Medeiros. A coleta das informações foi realizada junto ao abrigo provisório municipal de Maringá - PR, durante dois meses. Fizemos visitas três dias da semana, no inicio meio e final da mesma. Seis adolescentes com idades de 14 a 16 anos totalizaram a amostra para este estudo. Entrevistamos os jovens em dias diferentes sempre levantando as mesmas questões. As perguntas foram: 1) você pode me contar sua primeira experiência sexual? 2) houve consentimento das duas partes? 3) onde aconteceu? 4) usaram preservativos? 5) o parceiro era namorado ou um "ficante"? Como resultado obteve-se: os seis adolescentes iniciaram a prática sexual entre oito e treze anos de idade, em geral com alguém que gostavam muito. Vivem as amizades e as experiências amorosas intensamente compensando suas inúmeras carências. A desestruturação familiar é visível. Alguns deles nem sequer conheceram ou foram criados pelos pais. Sofrem desde a infância o abandono e o descaso. Desde pequenos, visualizaram o uso e tráfico de drogas pelos adultos da família e incorporaram estes vícios à própria vida. Vivenciaram a desagregação de suas famílias e tiveram que "aprender a se virar". Os seis jovens do abrigo provisório municipal são o retrato da desigualdade social. Vivem em situações subumanas, como se fossem umas subespécies humanas, pois não possuem família, casa para a preservação da saúde do corpo e da mente. A fala e as ações dos jovens do abrigo municipal nos fazem acreditar que a sexualidade significa para eles uma fuga dos problemas vivenciados. Demonstram grande interesse pelo sexo. Não existem regras para o exercício da sexualidade nem uma idade adequada para o início da prática sexual. Estes adolescentes, como tantos outros que dividem suas vidas entre a rua e instituições, não tiveram o mesmo aprendizado em relação à vida sexual que os jovens de classe média. Não se pode afirmar que a sexualidade para estes jovens seja vivenciada como violência. Pode-se caracterizar que a sexualidade, para os seis jovens, é fonte de autonomia e quase a única de prazer na vida que levam.
Abstract: A study has been accomplished concerning a group of adolescents from the municipal provisional shelter of Maringá - Paraná that presented early sexual behavior with consented or not sexual intercourse. Thus, Lukde and Andre's (1986) methodological orientation was followed for the case study. The theoretical references were Claudia Fonseca and Marcelo Medeiros's studies. The information gathering was accomplished together with the municipal provisional shelter of Maringá - Paraná during two months. We paid visits on three days during the week, at the beginning, in the middle and at the end of it. Six adolescents aging from 14 to 16 years old were the sample for this study. We interviewed the young people on different days always raising the same questions. The questions were 1) can you tell me your first sexual experience? 2) Was there approval from both sides? 3) Where did it happen? 4) Did you wear preventive condom? 5) Was the partner a boy/girlfriend or a "date"? As a result, we obtained: the six adolescents started sexual intercourse between eight and thirteen years old, usually with someone they cared for a lot. They live the friendships and the love experiences intensely to make up for their uncountable needs. The family being not structured is visible. Some of them did not even know or were raised by their parents. They suffer since their childhood the abandonment and the carelessness. Since little, they have visualized the drug utilization and traffic by the adults in their family and so they incorporate these addictions into their own lives. They endured the disintegration of their families and had to "learn how to deal with it". The six young people from the municipal provisional shelter are the picture of the social differences. They live subhuman situations, as if they were a human subspecies, seen that they do not have a family and a home for their body and mind health preservation. The speech and actions of the young people from the municipal shelter make us believe that the sexuality means for them an escape from the problems they live. They demonstrate a great interest in sex. There are no rules for the exercise of sexuality, neither an adequate age for the beginning of sexual intercourse. These adolescents, as many others that spend their lives on the streets and in institutions, did not have the same type of learning regarding sexual life as the medium class youth. It cannot be asserted that the sexuality for these young people is experienced as violence. The sexuality may be characterized, for the six young people, as a source of autonomy and almost the only source of pleasure inside the life they endure. |