Resumo: As informações sobre a comunidade ictíica não podem ser consideradas adequadas sem um bom conhecimento da história natural e das fases iniciais do ciclo de vida. Desta forma, este trabalho tem como objetivo estudar a abundância, a distribuição e alimentação de larvas e juvenis de Pachyurus bonariensis da baía Sinhá Mariana, rio Cuiabá, Mato Grosso. As amostragens foram realizadas no período de março de 2000 a março de 2004, sendo que as larvas foram capturadas sempre as 16 e 22 horas. Os juvenis foram coletados utilizando-se redes de arrasto, operadas no período noturno. Simultaneamente, foram coletadas amostras de água para a obtenção da temperatura, do oxigênio dissolvido, de pH e da condutividade elétrica. Em laboratório, as larvas foram separadas e identificadas. Para o estudo de distribuição e abundância de larvas foram agrupadas por estágios de desenvolvimento (pré-flexão, flexão e pós-flexão) e para o estudo de alimentação as larvas e juvenis foram agrupados em classe de tamanho, estabelecidas de acordo com o intervalo entre os comprimentos padrão mínimo (2,1 mm) e máximo (49,4 mm) e também por estágios de desenvolvimento. A variação temporal da densidade de larvas, foi analisada através da Análise de Variância bifatorial. A associação entre as variáveis ambientais e as larvas foi realizada através da Correlação de Pearson. Para a análise dos dados de alimentação, foram determinadas a Freqüência de Ocorrência, a Abundância Específica, a amplitude de nicho e a associação da dieta entre as diferentes classes de tamanho. Durante o período, as maiores densidades de larvas ocorreram entre os meses de outubro e janeiro (primavera-verão), sendo este o principal período de reprodução da espécie. No entanto, larvas em pré-flexão e flexão também foram encontradas nos meses de inverno (junho e julho), possivelmente associadas às condições favoráveis para a reprodução. Durante o período de estudos, indivíduos de todos os estágios estiveram presentes, evidenciando uma sazonalidade reprodutiva, bem como a utilização da baía Sinhá Mariana para a reprodução e desenvolvimento. A densidade de larvas na subsuperfície da água é maior à noite, principalmente das larvas mais desenvolvidas, enquanto as larvas iniciais são encontradas na subsuperfície da água em ambos os horários, ou seja, o grau de desenvolvimento larval influencia no padrão de distribuição. Com relação à alimentação das larvas e juvenis, observa-se que a boca, inicialmente é ampla e ocupa posição terminal, proporcionando maior captura de alimentos. Já no final do estágio de pós-flexão e juvenil, a boca torna-se mais afunilada, assumindo posição subterminal, cujo reflexo é a alteração da alimentação e habitat. A característica protrátil da boca nas larvas no final de pós-flexão e nos juvenis auxilia a procura de alimento. O dobramento do tubo digestório e a formação dos cecos durante o desenvolvimento ontogênico coincidem com a mudança da dieta. Os microcrustáceos foram os principais itens consumidos pelas larvas das quatro primeiras classes, o que as caracterizam, como zooplanctívoras. Na quinta classe, composta apenas por juvenis, foram encontrados principalmente larvas e pupas de Chironomidae, caracterizando a dieta como invertívora. Durante o desenvolvimento larval a estratégia alimentar é generalista, exploraram recursos alimentares disponíveis no meio. Já na classe 5, a estratégia alimentar é especialista, devido a um alto consumo de uma única presa, larva de Chironomidae. O aumento inicial da amplitude de nicho está relacionado à diminuição das limitações morfológicas enquanto o estreitamento a partir da classe 3, pode estar associado à morfologia da boca e mudança da dieta. A semelhança da dieta entre as classes deve-se a alteração gradativa da dieta conforme o desenvolvimento das larvas e dos juvenis. A atividade das larvas é maior à noite, provavelmente isto seja um mecanismo para minimizar a competição intraespecífica e diminuir a predação sobre as larvas.
Abstract: The information of the ictiica community cannot be considered appropriate without a good knowledge of natural history and the initial phases of the life cycle. In such a way, this work has the objective to study the abundance, the distribution and feeding of larvae and juvenile of Pachyurus bonariensis of the Sinhá Mariana bay, Cuiabá River, Mato Grosso. The samplings had been carried through in the period of March from 2000 to March of 2004, being that the larvae were always captured the 4:00 p.m. and 10:00 p.m. The juvenile were collected using drag nets, operated in the nocturnal period. Simultaneously, water samples were collected for the obtaining of the temperature, dissolved oxygen, pH and electric conductivity. In laboratory, the larvae were separate and identified. For the distribution study and abundance of larvae, they were grouped by development stages (preflexion, flexion and postflexion) and for the feeding study the larvae and juvenile were contained in size class, established in agreement with the interval among the lengths minimum pattern (2,1 mm) and maximum (49,4 mm) and also for development stages. The temporary variation of the density of larvae, it was analyzed through the Analysis of Bifactorial Variance. The association between the environmental variables and the larvae was accomplished through the Pearson Correlation. For the analysis of the feeding data, they were determined the Frequency of Occurrence, the Specific Abundance, the niche width and the association of the diet enters the different size classes. During the period, the largest densities of larvae happened between the months of October and January (spring-summer), being this the main period of reproduction of the species. However, larvae in preflexion and flexion were also found in the months of winter (June and July), possibly associated to the favorable conditions for the reproduction. During the period of studies, individuals of all the stages were present, evidencing a reproductive seasonality, as well as the use of the bay Sinhá Mariana for the reproduction and development. The density of larvae in the subsurface of the water is larger at night, mainly of the larvae more developed, while the initial larvae are found in the subsurface of the water in both schedules, in other words, the degree of larval development influences in the distribution pattern. Regarding the feeding of the larvae and juvenile, it is observed that the mouth, initially is wide and it occupies terminal position, providing larger capture of foods. Already in the end of the postflexion stage and juvenile, the mouth becomes more funneled, assuming position subterminal, whose reflex is the alteration of the feeding and habitat. The characteristic proctratil of the mouth in the larvae in the end postflexion and in the juvenile ones, it assists the food search. The folds of the digesting tube and the formation of the cecos during the ontogenic development coincide with the change of the diet. The microcrustaceans were the main itens consumed by the larvae of the first four classes, what characterizes them as zooplanktivoruos. In the fifth class, just composed for juvenile, they were found larvae and mainly, Chironomidae pupa characterizing the diet as invertivorous. During the larval development the feeding strategy is generalist, they explored available feeding resources in the middle. Already in the fifth class, the feeding strategy is specialist, due to a high consumption of a single prey, Chironomidae larvae. The initial increase of the niche width is related to the decrease of the morphologic limitations while the narrowing starting from the third class it can be associated to the morphology of the mouth and change of the diet. The similarity of the diet among the classes is due the grade alteration of the diet according to the development of the larvae and of the juvenile ones. The activity of the larvae is larger at night probably this is a mechanism to minimize the intraespecific competition and to reduce the predation on the larvae. |