Resumo: O envelhecimento é um fenômeno que tem se expandido a todos os povos, sendo representativo também em alguns países em desenvolvimento, como é o caso do Brasil. Destarte, essa preocupação com a velhice tem estimulado a realização de estudos na busca por um envelhecimento ativo e saudável, evidenciando que a viabilidade deste perpassa pela necessidade de cuidado. Cuidar é algo que surgiu junto com a humanidade, sendo inerente ao ser humano. Observando os estudos sobre o processo de envelhecimento e cuidado ao idoso no Brasil, percebemos que pouco ou nada tem sido abordado sobre o envelhecimento das populações indígenas. Dessa forma, em consonância com o fenômeno mundial do envelhecimento, este trabalho propõe descrever e compreender as práticas de cuidado dos indígenas com seus familiares idosos, abordando as relatividades culturais envolvidas no processo. Trata-se de um estudo descritivo de abordagem qualitativa fundamentada no método etnográfico. Os dados foram coletados por meio de observação participante da comunidade e entrevistas com 20 famílias de idosos, realizadas no período de novembro de 2010 a março de 2011. As informações e percepções foram implementadas por registros em diário de campo dos pesquisadores. A análise dos achados se deu por intermédio do referencial teórico de Madeleine Leininger. Os resultados evidenciaram que as famílias possuem estratégias próprias para a viabilização do cuidado ao kofa (velhos), utilizando inclusive a rede de apoio social. Reforçou-se ainda nessa etnia a forte presença da mulher como cuidadora, por este motivo a característica de matrilocalidade da etnia é sugestiva de intensificação dos estressores entre as famílias, cuja descendência é predominantemente masculina, dessa forma, ao enfermeiro é requerido cautela no julgamento do não-cuidado ao idoso, em função das relações envolvidas nos processos de cuidado. Dentre os saberes e práticas tradicionais de cuidado à saúde mais utilizadas, evidenciou-se a crença da influência de forças sobrenaturais, a religiosidade e a utilização de fitoterápicos. Destaca-se como bastante relevante no cuidado à saúde desses indígenas a compreensão de mundo próprio do Kaingang. Explicitou-se ainda o kujà (curandeiro) como detentor do conhecimento de plantas e suas indicações. Refletindo à luz da Teoria Transcultural do Cuidado é reforçada a urgência de compreensão do sistema de crenças e valores para o entendimento das práticas de cuidado, vislumbrando amplas possibilidades de fortalecimento da atenção à saúde dos Kaingang no que se refere à promoção do bem-estar e empoderamento da população assistida. Destarte, necessita-se da aproximação do profissional às práticas tradicionais de cuidado de forma a valorizar os saberes, viabilizando assim a preservação, a acomodação ou a repadronização das práticas, de acordo com o contexto em que estão inseridas, visto que a ambiguidade do cuidado e do não-cuidado pode ser interpretada como comportamento que compõe a teia de significados para o cuidado nessa população.
Abstract: Aging is a phenomenon that has expanded among all populations, being also representative in some developing countries as Brazil. Thus this concern with aging has stimulated the accomplishment of some studies aiming at both an active and healthy aging, making clear that the viability of this goes beyond the need of care. Caring is something that showed up together with human race, being inherent to humankind. Observing the studies on aging process and elderly care in Brazil, we noticed that little or almost little has been focused on indigenous populations'aging. This way in accordance to the worldly aging phenomenon, this work proposes to identify and discuss indigenous care practices with their elderly family members, approaching the cultural relativities involved in the process. It is a descriptive study of a qualitative approach based on the ethnographic method. Data was collected through the active observation of community and interviews of 20 elderly families carried out from November 2010 to 2011. The information and perceptions were complemented by the researchers' field daily registrations. The analysis of the findings was done through Madeleine Leininger' s theory. The data showed that the families held specific strategies to make it possible to care for the kofa (elderly), making use of the social support network inclusively. In this group, the strong presence of women as caretakers was also reinforced, consequently the group's matriarchal characteristic is suggestive of the intensification of stressors among families whose descendants are to a great extent masculine. Thus the caretaker should be careful because of the relations involved in the caring processes. Among the knowledge and the most used traditional practices of health care, belief in supernatural forces, religious belief, and the use of phytotherapy were found. It is highlighted in Kaingang's health care the understanding of their own world. It was clear that the kujà (medicine man) was the one who had the knowledge of plants and its applications. Thinking based on the Transcultural Care Theory, it is reinforced the urge of understanding the values and belief systems to comprehend caring practices; foreseeing this way ample possibilities of keeping stronger the attention to Kaingang's health, regarding their well being promotion and empowerment of assisted population. Thus it is necessary that the professional try to bring closer the traditional practices of caring, taking into account the knowledge, making it possible this way, the preservation, adjustment or restandardization of practices according to the context in which they are inserted; the ambiguity of caring or non caring may be seen as behaviors that compose the web of significances for caring in this population. |