Resumo: Este trabalho teve como objetivo estudar a ontogenia e a seletividade alimentar de larvas e juvenis de peixes de diferentes guildas tróficas (Catathyridium jenynsii, Pyrrhulina australis e Hoplosternum littorale). Para a análise da ontogenia foram considerados os indivíduos amostrados no canal principal do rio Ivinhema, na lagoa dos Patos e na lagoa do Finado Raimundo, MS e para a seletividade foram consideradas somente as amostras realizadas nas lagoas. As amostragens foram realizadas entre os meses de outubro a março dos anos de 2005 a 2009. Concomitantemente às amostragens de ictioplâncton foram colhidas amostras de zooplâncton. Após as coletas as amostras foram triadas e as larvas e juvenis identificados, medidos quanto ao seu comprimento padrão, comprimento da cabeça, maxila superior e os indivíduos agrupados em estágios de desenvolvimento. O zooplâncton foi identificado e quantificado. As mudanças no desenvolvimento do trato digestório foram descritas em relação à posição da boca e a morfologia do tubo digestório. A análise da dieta foi realizada utilizando os métodos de Frequência de Ocorrência e Numérica. Analisou-se também a estratégia alimentar, a amplitude da dieta e as alterações inter e intraespecifica da dieta através da Análise Discriminante. Para testar a relação entre o tamanho da boca e comprimento da cabeça entre as espécies utilizou-se a Análise de Covariância (ANCOVA) e para cada espécie, aplicou-se o teste de Regressão Linear. As diferenças na dieta e as variações destas em relação ao tamanho da boca intra e interespecífica foi avaliada através do Procedimento de Permutação Multi-resposta. A existência de itens que funcionam como indicadores da dieta entre as espécies foi avaliada através da Análise de Espécies Indicadoras e para avaliar a escolha da presa na comunidade zooplanctônica foram obtidos os valores de seletividade. No período larval Catathyridium jenynsii foi zooplanctívora e insetívoras nos juvenis, P. australis oscilou entre insetos e zooplâncton no período larval e foi insetívora nos juvenis, enquanto H. littorale foi zooplanctívora durante todo o desenvolvimento inicial. Somente C. jenynsii apresentou estratégia alimentar especialista, sendo que as demais tiveram diferenças intraespecíficas da dieta. Durante o desenvolvimento larval de C. jenynsii a amplitude de nicho manteve-se a mesma e nos juvenis diminuiu. Para as demais espécies houve aumento dos valores de amplitude de nicho. Para C. jenynsii o aumento do tamanho dos itens consumidos relaciona-se ao aumento da boca durante o desenvolvimento, enquanto para P. australis e H. littorale houve variação dos tamanhos dos itens ingeridos. A composição da dieta variou inter e intraespecificamente. Os itens indicadores da dieta encontrados em C. jenynsii foram Cladocera e Calanoida e para H. littorale foram Alona sp., Chydoridae, Chydorus nitidulus, Daphnia gessneri, Diaphanosoma birgei e Calanoida, enquanto para P. australis não foi registrada nenhuma espécie indicadora. Os itens abundantes no meio foram Rotifera, seguido de Cladocera e Copepoda. As larvas de C. jenynsii e P. australis selecionaram principalmente Cladocera enquanto os juvenis, Copepoda. Para H. littorale houve seleção de Moina minuta e Plationus sp nos estágios de flexão e pós-flexão. Assim pode-se concluir que a posição da boca e a morfologia do tubo digestório influenciam a dieta e o hábito alimentar sendo este adquirido ainda nos estágios larvais. O zooplâncton tem a maior contribuição na dieta das larvas de peixes, no entanto, outros itens alimentares podem ser utilizados. As espécies se diferenciam intra e interespecificamente em relação à dieta. A seleção do alimento é influenciada pelo tamanho da boca, enquanto que a abundância do alimento influencia, individualmente, as espécies e estágios de desenvolvimento. Alguns itens funcionam como indicadores da dieta das espécies, onde as diferenças morfológicas da boca determinam a variação dos tipos e dos tamanhos de presas. Os indivíduos podem selecionar o alimento ou aproveitar a abundância no meio. Para isto depende também da capacidade de natação e acuidade visual, o que influencia na captura e ingestão do alimento.
Abstract: This work aimed to study the ontogeny and feeding selectivity of larval and juvenile fishes of different trophic guilds (Catathyridium jenynsii, Pyrrhulina australis and Hoplosternum littorale). For the analysis of ontogeny were considered individuals sampled in the main river channel Ivinhema, in Patos and Finado Raimundo lagoons, Mato Grosso do Sul, and selectivity were considered only samples taken in the lagoons. Samples were taken between the months October to March the years 2005 to 2009. Simultaneously to the ichthyoplankton samples were collected zooplankton. After collection the samples were screened and larvae and juveniles identified, measured for length standard, head length, upper jaw, and grouped into stages of development. Zooplankton was identified and quantified. Changes in the development of digestive tract have been described in relation to the position of the mouth and the morphology of the tube. The diet analysis was performed using the methods Occurrence and Numerical of Frequency. It was also analyzed feeding strategy, the amplitude changes of diet and intra and interespecific diet by Discriminant Analysis. To test the relationship between the size of the mouth and head length between species, we used Analysis of Covariance (ANCOVA) and each species, we applied the Linear Regression test. The differences in diet and these variations in the size of intra and interspecific mouth was assessed using the Multi-response Permutation Procedure. The existence of items that serve as diet of indicators among species was assessed by Indicator Species of Analysis and to assess the choice of prey on zooplankton community values were obtained selectivity. C. jenynsii was zooplanktivore during larval and juvenile fish in insectivore, P. australis ranged from insects and zooplankton during the larval and juvenile was insectivorous, while H. littorale was zooplanktivore during the early development. Only C. jenynsii presented food strategy specialist, while the others were intraspecific differences in diet. During the larval development of C. jenynsii niche amplitude remained the same and decreased in juveniles. For the other species increased values of niche breadth. To C. jenynsii increasing the size of the items consumed relates to increase the mouth during development, for P. australis and H. littorale was no variation of the sizes of the items taken. The composition of the diet varied intra and interespecific. The indicators of dietary items found in C. jenynsii were Cladocera and Calanoida and H. littorale were Alona sp., Chydoridae, Chydorus nitidulus, Daphnia gessneri, Diaphanosoma birgei and Calanoid, for P. australis was not registered any indicator species. Items Rotifera were abundant in the middle, followed by Cladocera and Copepoda. The C. jenynsii and P. australis larvae selected while the juveniles mainly Cladocera, Copepoda. For H. littorale was selection of Moina minuta and Plationus sp. in the stages of flexion and post-flexion. Thus we can conclude that the position of the mouth and digestive tract morphology and diet influence eating habits and this is yet acquired in the larval stages. Zooplankton has the largest contribution to the diet of fish larvae, however, other food items may be used. The species differ in intra and interspecific relation to diet. The choice of food is influenced by the size of the mouth, while the abundance of food influence individually the species and stage of development. Some items serve as indicators of the diet of the species, where morphological differences of the mouth determine the variation of types and sizes of prey. Individuals can select the food or enjoy the abundance in the middle. For this also depends on the swimming ability and visual acuity, which influences the capture and ingestion of food. |