Resumo: Considerando que as famílias exercem papel fundamental na iniciação e continuidade ao uso de drogas, o objetivo do estudo foi analisar a influência do ambiente familiar para o uso de crack em usuários habituais ou dependentes. Trata-se de uma pesquisa transversal, de natureza descritiva, com delineamento em série de casos, tendo como referencial teórico a Teoria Geral dos Sistemas, particularmente o uso do Genograma para a identificação de aspectos multigeracionais familiares associados ao uso de drogas de abuso. O estudo foi realizado no município de Maringá-Paraná, e os casos investigados, independentemente do município de procedência, foram originários de uma Comunidade Terapêutica (CT) da região Noroeste do Paraná. A amostra, constituída por critérios de funcionalidade do uso das drogas, foi de 20 usuários de crack, classificados, funcionalmente como habituais ou dependentes, do sexo masculino, com idade igual ou superior a 18 anos, em tratamento na CT no mês de maio de 2011, e suas respectivas famílias, sendo escolhido um membro como informante familiar e efetivamente investigados 15 familiares. Os instrumentos de coleta de dados foram roteiros semi estruturados, incluindo espaço para desenho dos Genogramas - Roteiro Usuário e Roteiro Família, um questionário de classificação econômica das famílias, e diário de campo. Foram realizadas entrevistas individuais com foco nos antecedentes do uso de drogas de abuso e nas relações familiares, com posterior construção do Genograma de duas gerações. Os dados quantitativos foram submetidos à estatística descritiva simples, os dados qualitativos foram analisados por meio da análise de conteúdo temática, e os Genogramas foram incluídos no programa power point e analisados em um processo semelhante ao da análise do conteúdo. A maioria dos usuários tinha idade entre 20 a 39 anos, eram solteiros ou separados/divorciados, com baixa escolaridade, e desempregados. O padrão do uso de drogas caracterizou-se pelo uso múltiplo, com início de drogas lícitas e ilícitas na juventude. A trajetória confirmou uma escalada no uso das substâncias psicoativas, iniciando com o tabaco e/ou álcool e finalizando com o uso de crack. Os informantes familiares foram em sua maioria mães, com idade entre 19 a 62 anos, casados e com filhos, baixa escolaridade, católicos e empregados. A maioria das famílias pertencia à classe econômica C ou B, possuía religião, utilizava o SUS, e apontou o almoço familiar como a atividade recreacional mais realizada. O 15 Genogramas analisados incluíram 378 familiares, com uma média de 25,2 familiares. As configurações familiares apresentaram-se diversificadas, sendo que nove famílias eram nucleares, quatro eram monoparentais, e duas comunitárias. Todas as famílias apresentaram pelo menos um relacionamento harmonioso com um membro familiar, 11 apresentou relacionamento distante com tios e avós maternos e/ou paternos, e sete algum relacionamento conflituoso, principalmente com nora, irmãos, filho, neto, esposo e ex-esposo. Quatorze famílias apresentavam antecedentes do uso de drogas de abuso, sendo que oito tinham história de uso de drogas ilícitas, principalmente maconha, cocaína e crack, e 91 pessoas foram identificadas como consumidores de álcool e/ou tabaco. Dentre os fatores determinantes para o uso de drogas, verificou-se a deficiência de suporte parental, a cultura familiar do uso de drogas e a presença de conflitos familiares. As famílias estudadas apresentaram vários elementos considerados desfavoráveis no ambiente familiar que atuaram como elemento facilitador ao uso de drogas de abuso, e consequentemente ao uso de crack. A análise dos Genogramas confirmou a reprodução multigeracional de comportamentos associado ao uso de drogas de abuso, com a influência de aspectos culturais, crenças e valores familiares.
Abstract: Since the family plays a key role in the initiation and continuation of illicit drug use, the influence of the family environment in the use of crack by regular users or in those people dependent on the cocaine-derived drug is analyzed. Survey is cross-sectional, descriptive and features a series of cases, with a theoretical framework based on the General Systems Theory, particularly a Genogram to identify multigenerational family issues associated with the use of illicit drugs. The study was conducted in Maringá PR Brazil, and the cases investigated, regardless of county of origin, hailed from a Therapeutic Community (TC) in the northwestern region of the state of Paraná. The sample consisted of 20 crack users who were classified as habitual or functionally dependent males, aged over 18, treated at the TC during May 2011. Their families were also surveyed through a chosen family member as informant. In fact, 15 family members were also investigated within the sample, characterized by criteria for functionality of drug use. Half-structured surveys were employed for data collection. These comprised space for the drawing of the Genogram - User Survey and Family Survey, a questionnaire for the social and economical conditions of the families and a field diary. Individual interviews were undertaken focusing on the history of the illicit drug users and their family relationships. The latter helped in the construction of a two-generation Genogram. Whereas quantitative data were submitted to descriptive statistics, qualitative data were analyzed by thematic content analysis. Genograms were inserted in Power Point program and analyzed in a process similar to content analysis. Most users were in the 20 - 39 years age bracket, single or separated / divorced, with low schooling, unemployed. Drug use pattern was characterized by frequency, with an initial onset of licit and illicit drugs when they were young. Their life trajectory confirmed an escalation in the use of psychoactive substances, starting from tobacco and / or alcohol and ending with crack. The family informants were mostly mothers, aged 19 to 62 years, married, with children, low schooling, Catholics and employees. Most families belonged to the economic classes C and B, with religious practice, users of the government medical care (SUS) and indicated the family lunch as their most frequent recreational activity. The fifteen Genograms analyzed included 378 family members, with an average of 25.2 members. Family frames were diverse: nine were nuclear families, four were single parent families, two community families. All families had at least a harmonious relationship with a family member; 11 had distant relationships with maternal or paternal grandparents and uncles; seven had a conflicting relationship, especially with daughter-in-law, brother, children, grandchildren, spouse and former spouse. Fourteen families revealed a history of drug use and eight had a history of illicit drug use, particularly marijuana, cocaine and crack. Ninety-one people were identified as consumers of alcohol and / or tobacco. Deficiency in parental support, a family culture in drug use and family conflicts were among the determining factors for drug use. The families studied had several issues which were unfavorable to the family environment. In fact, they facilitated the use of illicit drugs, especially crack. Analysis of Genograms confirmed multigenerational reproductive behaviors associated with illicit drug use through the influence of cultural aspects, beliefs and family values.
Resumen: Considerándose que las familias ejercen papel fundamental en la iniciación y continuidad al uso de drogas, el objetivo del estudio fue analizar la influencia del ambiente familiar para el uso de crack en usuarios habituales o drogadictos. Se trata de una investigación transversal, de naturaleza descriptiva, con delineamiento una serie de casos, teniendo como referencial teórico la Teoría General de los Sistemas, particularmente el uso del Genograma para la identificación de aspectos multigeneracionales familiares asociados al uso de drogas de abuso. El estudio se realizó en el municipio de Maringá-Paraná, y los casos investigados, independiente del municipio de procedencia, fueron originarios de una Comunidad Terapéutica (CT) de la región Noroeste de Paraná. La muestra, constituida por criterios de funcionalidad del uso de las drogas, fue de 20 usuarios de crack, clasificados, funcionalmente como habituales o drogadictos, del sexo masculino, con edad igual o superior a 18 años, en tratamiento en la CT en el mes de mayo de 2011, y sus respectivas familias, se eligió un miembro como informante familiar y efectivamente investigados 15 familiares. Los instrumentos de recolecta de datos fueron itinerarios semi estructurados, incluyéndose espacio para diseño de los Genogramas – Guión Usuario y Guión Familia, un cuestionario de clasificación económica de las familias, y diario de campo. Se realizó entrevistas individuales con enfoque en los antecedentes del uso de drogas de abuso y en las relaciones familiares, con posterior construcción del Genograma de dos generaciones. Los datos cuantitativos fueron sometidos a la estadística descriptiva simple, los datos cualitativos fueron analizados por medio del análisis de contenido temático, y los Genogramas fueron incluidos en el programa power point y analizados en un proceso semejante al del análisis do contenido. La mayor parte de los usuarios tenía edad entre 20 a 39 años, eran solteros o separados/divorciados, con baja escolaridad, y desempleados. El patrón del uso de drogas se caracterizó por el uso múltiple, con inicio de drogas lícitas e ilícitas en la juventud. La trayectoria confirmó una escalada en el uso de las substancias psicoactivas, iniciando con el tabaco y/o alcohol y finalizando con el uso de crack. Los informantes familiares fueron, en su mayor número, madres, con edad entre 19 a 62 años, casados y con hijos, baja escolaridad, católicos y empleados. La mayor parte de las familias pertenecía a la clase económica C o B, poseía religión, utilizaba el SUS, y apuntó el almuerzo familiar como la actividad recreacional más realizada. Los 15 Genogramas analizados incluyeron 378 familiares, con un promedio de 25,2 familiares. Las configuraciones familiares se presentaron diversificadas, siendo que nueve familias eran nucleares, cuatro eran monoparientales, y dos comunitarias. Todas las familias presentaron por lo menos un relacionamiento armonioso con un miembro familiar, 11 presentó relacionamiento distante con tíos y abuelos maternos y/o paternos, y siete algún relacionamiento con conflicto, principalmente con nuera, hermanos, hijo, nieto, esposo y ex-esposo. Catorce familias presentaban antecedentes del uso de drogas de abuso, siendo que ocho tenían historia de uso de drogas ilícitas, principalmente marihuana, cocaína y crack, y 91 personas fueron identificadas como consumidores de alcohol y/o tabaco. Entre los factores determinantes para el uso de drogas, se verificó a deficiencia de suporte parental, la cultura familiar del uso de drogas y la presencia de conflictos familiares. Las familias estudiadas presentaron varios elementos considerados desfavorables en el ambiente familiar que actuaron como elemento facilitador al uso de drogas de abuso, y consecuentemente al uso de crack. El análisis de los Genogramas confirmó la reproducción multigeneracional de comportamientos, asociado al uso de drogas de abuso, con la influencia de aspectos culturales, creencias y valores familiares. |