Resumo: A presente dissertação resulta de pesquisa bibliográfica realizada no Programa de Pós-Graduação em Psicologia da Universidade Estadual de Maringá (2010-2011) e atrela-se à Área de Concentração Constituição do Sujeito e Historicidade. Teve como objetivos: investigar as contribuições teórico-metodológicas da Psicologia Histórico-Cultural e do materialismo histórico-dialético para a compreensão do alcoolismo e do homem alcoolista no capitalismo, e estabelecer possíveis caminhos para a intervenção do psicólogo ao seu enfrentamento. Estudaram-se as formulações hegemônicas atuais sobe o alcoolismo, com vistas a identificarmos as principais proposições em relação: à etiologia, aos instrumentos diagnósticos e aos métodos de tratamento. Para tanto, recuperou-se o percurso histórico da relação dos homens com o álcool, considerando-se os modos de produção e consumo da vida (primitivismo, antiguidade clássica, feudalismo e capitalismo) e a produção o consumo do álcool em cada sociedade. Isso permitiu compreender a historicidade dos fatos humanos, no caso, a constituição do álcool como uma mercadoria e o alcoolismo como uma patologia. O aprofundamento nos conhecimentos sobre o alcoolismo no modo de produção capitalista, bem como sobre as concepções psicológicas e o trabalho do psicólogo neste contexto, remeteu à história brasileira, desde os anos iniciais do século XX, considerando-se as teorias e práticas da psiquiatria e psicologia frente ao alcoolismo. Foram relacionadas às produções científicas vigentes sobre o alcoolismo com as condições de vida e trabalho nas quais estavam inseridos os trabalhadores brasileiros no período. No intuito de superação das proposições da ciência psicológica e intervenções para enfrentamento do alcoolismo vigente procurou-se, na teoria e método que dão base à pesquisa, fundamentos à nossa análise. Aprofundou-se, pois, nos estudos: de elaborações de L. S. Vigotski e demais autores da Psicologia Histórico-Cultural; da psiquiatria soviética sobre o alcoolismo; de publicações sobre as condições materiais da antiga URSS que constituíram o contexto tal psicologia; de publicações sobre o alcoolismo e a saúde coletiva nos dias atuais. Destaca-se que aquela sociedade que buscou superar a propriedade privada dos meios de produção bem como a existência de classes sociais, também enfrentou o problema do alcoolismo. Obtiveram-se alguns elementos para comparação entre as ações estabelecidas para o enfrentamento do alcoolismo no Ocidente capitalista, especialmente no Brasil, com o realizado na URSS, os avanços e contradições presentes na Sociedade Soviética. Como resultados, podem-se sistematizar algumas proposições considerando-se a teoria de Vigotski, especialmente seus escritos sobre a defectologia, e de alguns de seus colaboradores e continuadores e as formulações da Saúde Coletiva marxista. Elas evidenciam a concepção de sujeito e de seu psiquismo como síntese de múltiplas determinações, compreendido em sua totalidade. Como conclusões, percebeu-se a importância da história como ferramenta teórica e metodológica para o avanço nos estudos da ciência psicológica de modo a não individualizar e não naturalizar o homem, seu psiquismo, sua conduta e seu adoecimento pelo alcoolismo. Isso encaminha a um trabalho no domínio da própria conduta, objetivando a superação do alcoolismo e das condições objetivas materiais, econômicas e sociais, gerados da alienação, da cisão entre sujeito e sociedade, e do conseqüente adoecimento humano.
Abstract: This dissertation consists of some bibliographical research carried out in the Postgraduate Program in Psychology at the State University of Maringá (2010-2011) in the research field of Constitution of the Subject and Historicity. It aimed at both investigating the theoretical and methodological contributions offered by the historical-cultural psychology and the historicaldialectical materialism to understand alcoholism and the alcoholic in the capitalist society as well as establishing some possible ways for the psychologist to cope with it. Current hegemonic discourses about alcoholism were examined in order to identify the main assumptions related to etiology, diagnostic instruments and methods of treatment. For that, the historical course of man?s relationship with alcohol was regained by considering the means of production and consumption of life (primitivism, classic ancients, feudalism and capitalism) and production and consumption of alcohol in each society. This way, it was possible to understand the historicity of human facts, in particular, the constitution of alcohol as a commodity and alcoholism as a pathology. Deepening knowledge of alcoholism in the capitalist production means as well as of psychological conceptions and the psychologist's work in this context brought back the Brazilian history in the early 20th century, regarding psychiatric and psychological theories and practices towards alcoholism. Current scientific papers on alcoholism were related to the life and work conditions of Brazilian workers in that time. The theoretical and methodological foregrounding adopted for our research analysis was aimed at overcoming current psychological science assumptions and interventions to cope with alcoholism. A study of L. S. Vygotsky's work and other scholars' of historical-cultural psychology; Soviet psychiatry on alcoholism; scientific papers on the material conditions of ancient URSS which constituted the present setting of psychology; scientific papers on alcoholism and collective health today, was thoroughly conducted. It was verified that the society that attempted to overcome the private property from means of production as well as the existing social classes faced the alcoholism matter as well. Some elements of comparison between the actions taken in order to cope with alcoholism in the Capitalist West, especially, in Brazil, and those taken in the URSS, the advancement and contradictions in the Soviet society. As a result, some assumptions can be assumed by considering Vygotsky's theory, especially, his works on defectology and some of his partners' and followers', and the Marxist Collective Health formulations. They confirm that the conception of subject and his or her psyche is a synthesis of multiple determinations understood in its whole. In conclusion, we were aware of the importance of history as a theoretical and methodological tool for a progress in psychological science studies so as neither individualize nor naturalize man, his or her psyche, behavior and sickness from alcoholism. Therefore, the present study itself followed the domains of its own behavior in an effort to cope with alcoholism and material, economic and social objective conditions brought by alienation, split between subject and society, and the resulting human sickness. |