Resumo: A presente dissertação tem como objetivo geral o estudo do trauma psíquico a partir da orientação teórica freudiana. O interesse pelo estudo da presente temática se deve à sua ampla abrangência teórica, com seus inúmeros desdobramentos e modificações durante toda a construção da psicanálise de Freud. No desenrolar da obra muitíssimos textos nos chamaram a atenção, por apresentarem alguma modificação, um algo a mais a ser entendido. Vale dizer que a obra freudiana, como um todo, e principalmente em referência a este tema, apresenta-se misteriosa, não explícita, e cada vez que é revisitada revela um algo mais a ser entendido e integrado aos conhecimentos anteriores. Especialmente alguns textos aumentaram nossa curiosidade e interesse: Projeto para uma psicologia Científica (1885), Carta a Fliess de 21 de setembro de 1897 (carta 69); Interpretação dos Sonhos, cap. VII (1900/1996); Escritores criativos e devaneios (1908/1996); A História de uma Neurose Infantil: O Homem dos Lobos (1918 [1914]/1996); Além do princípio do prazer (1920/1996) e Moisés e o Monoteísmo (1939 [1934-1938]/1996). Desta forma, um de nossos principais objetivos foi construir uma linha de sentido a partir do conceito de trauma psíquico, alinhavando os conhecimentos de todos estes textos, esclarecendo e aglutinando as principais considerações teóricas de Freud sobre o tema, sua economia e dinâmica em diferentes momentos da obra, formando assim um cenário da teoria a partir do trauma. O desejo de chamar de volta o trauma e conhecer o conceito em profundidade foi o motivo pelo qual decidimos revisitar Freud e suas teorizações sobre o trauma psíquico de forma cronológica. Revisitamos textos sobre o tema desde os primeiros trabalhos em psicanálise, não nos atendo apenas aos artigos consagrados, mas estendendo-nos àqueles pouco conhecidos que, em muitos casos, já antecipavam os grandes desfechos teóricos dos textos clássicos. Muitas questões surgiram durante o trabalho sobre o que de fato teria mudado na concepção freudiana sobre o assunto, por isso seguimos a obra de Freud atrás destas mudanças. Ao final deste percurso pudemos concluir que mesmo diante de inúmeras transformações no decorrer de toda obra freudiana em relação ao trauma psíquico, grande parte dos enunciados a ele dedicados pelo autor, foram reconsiderados e revalidados, principalmente em seu artigo Moisés e o Monoteísmo. Possivelmente as guerras e as condições de vida de Freud no final de sua vida, fizeram-no retomar o trauma psíquico e atribuir-lhe novamente importância, especialmente como fator desencadeador das neuroses e a enunciar que factualmente toda neurose é uma neuroses traumática. Além disso vale destacarmos que, como já supúnhamos de início, o caráter quantitativo (excessivo) é sem sombra de dúvidas a característica que define o trauma psíquico e a única que nunca foi posta de lado, o que torna as teorizações de Freud sobre este assunto atemporais.
Abstract: This dissertation generaly purpose to study the psychic trauma from the Freudian theoretical orientation. Interest in the study of this subject is due to its broad theoretical scope, with its many developments and changes throughout the construction of the psychoanalysis of Freud. In the course of the work a great many texts caught our attention because they present some modification, a plus to be understood. That is to say that Freud's work as a whole, and particularly in reference to this issue, presents itselfes mysterious, not explicit, and is revisited every time a show something more to be understood and integrated with previous knowledge. Especially some texts have increased our curiosity and interest: Project for a Scientific Psychology (1885), Letter to Fliess of September 21, 1897 (letter 69); Interpretation of Dreams, ch. VII (1900/1996); Creative writers and daydreaming (1908/1996), The History of an Infantile Neurosis: The Wolf Man (1918 [1914] / 1996), Beyond the Pleasure Principle (1920/1996) and Moses and Monotheism (1939 [1934-1938] / 1996). Thus, one of our main goals was to build a line of direction from the concept of psychic trauma, tacking the knowledge of all these texts, clarifying and agglutinating the main theoretical considerations of Freud on the subject, its dynamic and economy at different times of the work, thus forming a scene from the theory of trauma. The desire to recall the trauma and learn the concept in depth was the reason we decided to revisit Freud and his theories on psychic trauma in chronological order. Revisit texts on the subject since the early work in psychoanalysis, we are not only focused on articles dealing with, but extending ourselves to those little known that in many cases, already anticipated the major theoretical outcomes of the classic texts. Many questions arose during the work on what would have actually changed in the Freudian about it, so we follow Freud's work looking for these changes. At the end of this route, we concluded that even with many changes throughout the course of Freud's work in relation to psychic trauma, much of it devoted to statements by the author, were reconsidered and revalidated, especially in his article Moses and Monotheism. Possibly the wars and the living conditions of Freud at the end of his life, made him return to the psychic trauma and assign importance to him again, especially as a triggering factor of the neuroses and factually stating that every neurosis is a traumatic neurosis. Also worth noting that, as we assumed at first the quantitative character (excessive) is undoubtedly the defining characteristic of the psychic trauma and the only one that was never set aside, which makes Freud's theories on this subject timeless. |