Resumo: Ao longo da história da humanidade, a velhice tem sido concebida e retratada de diversas maneiras, visto que ocupa, nas diversas culturas e momentos históricos, distintas posições. Enquanto período de desenvolvimento humano, a velhice tem sido compreendida pela Psicologia por um viés naturalizante, cujo cerne das explicações baseia-se exclusivamente pelo paradigma biopsicossocial. Com o intuito de construir uma Psicologia que supere essa visão naturalizante do desenvolvimento humano, buscamos nos pressupostos da Psicologia Histórico-Cultural, sobretudo nas pesquisas de L. V. Vigotski, A. N. Leontiev e D. B. Elkonin, subsídios para compreender o desenvolvimento humano. Para esses autores, ele é caracterizado por períodos que são influenciados pelas condições históricas da humanidade. Desse modo, para cada período de desenvolvimento, existem características que são alicerçadas nas relações sociais de produção. Nesse sentido, os períodos só podem ser compreendidos a partir da análise dessas relações. Considerando os pressupostos da Psicologia Histórico-Cultural, e tomando como objeto de estudo a velhice, delineamos como objetivo dessa pesquisa, analisar as contribuições que essa escola psicológica nos fornece para a compreensão do período de desenvolvimento humano denominado velhice, considerando-se o conceito de atividade principal ou dominante. É importante destacar que, nessa perspectiva, os períodos de desenvolvimento são marcados por atividades principais ou dominantes, sendo que essas podem ser entendidas como a maneira como o indivíduo vai se relacionar com a realidade, ou seja, aquela atividade que vai guiar o desenvolvimento naquele momento. A partir da reflexão acerca dos pressupostos teóricos da Psicologia Histórico Cultural, levantou-se como hipótese, para este estudo, que a atividade dominante ou principal, que norteia o desenvolvimento humano durante a velhice, na sociedade capitalista, consiste na mesma atividade dominante que guia a vida adulta, ou seja, a atividade trabalho. Para realizar tal investigação sobre a velhice, realizamos uma pesquisa bibliográfica e uma pesquisa de campo por meio de entrevistas semiestruturadas com 10 idosos aposentados, sendo que 05 idosos aposentados ainda estavam exercendo atividades profissionais e 05 idosos aposentados não estavam mais exercendo nenhuma atividade profissional. A partir das informações coletadas pôde-se compreender a velhice a partir de outra perspectiva, sobretudo porque se buscou na concretude, elementos que pudessem sustentar e explicar a existência desse período de desenvolvimento na sociedade capitalista. Nesse sentido, reafirmamos a necessidade da construção de uma Psicologia calcada na materialidade da existência humana. Também pudemos visualizar que, aparentemente, o trabalho tem, de fato, norteado o desenvolvimento humano durante a velhice, posto que o idoso tem se relacionado com a realidade a partir dessa atividade. No entanto, a relação que o idoso estabelece com o trabalho ganha um novo sentido, considerando as especificidades do momento e das condições materiais que permeiam sua vida.
Abstract: Along mankind history, the elderly age has been conceived and portrayed in several ways, as it takes up distinctive positions in diverse cultures and historic moments. As period of human development, the elderly age has been understood by psychology as a natural bias, whose core of explanations are based exclusively on the biopsycosocial paradigm. With the aim of building a psychology that surpass the natural vision of the human development we sought on the principles of the historical-cultural psychology, specially on the researches of L. V. Vigotski, A. N. Leontiev and D. B. Elkonin, information to understand the human development. For these authors this psychology is characterized by periods that are influenced by historical conditions of humanity. Thus, for each development period there are characteristics that are consolidated in social relations of production. This way, the periods can only be understood from the analyses of these relations. Considering the principles of the historical-cultural psychology, and having elderly age as the subject of study, we outlined as the objective of this paper to analyze the contributions that this psychological school has provided to understand the period of human development known as elderly age, considering the concept of main and dominant activity. It is important to highlight that, in this approach, the development periods are set by main or dominant activities and, they can be understood as how the individual will relate with reality, i.e., the activity which will guide the development at that moment. Based on the reflection of the theoretical principles of Historical-Cultural Psychology, a hypothesis was arisen for this study that the dominant and main activity which guides the human development during the elderly age in the capitalist society, consists of the same dominant activity which guides the adulthood, i.e., the labor activity. To accomplish this investigation about elderly age, we carried out a bibliographic research and a survey by means of semi-structured interviews with 10 elderly retirees, where 5 of them were still working in their professional activities and other 5 elderly retirees that were no longer working on any professional activity. From the collected information it was possible to understand about the elderly age from another perspective, mainly because it was sought, in the concreteness, the elements that could support and explain the existence of this period of development in the capitalist society. In this sense, we reaffirm the need of building a Psychology based on the materiality of the human existence. We could also visualize that apparently, the work has indeed guided the human development during the elderly age, as the elderly has related himself/herself with reality based on this activity. Nevertheless, the relation that the elderly establishes with his/her work finds a new meaning, considering the specificities of the moment and the material conditions that permeates his/her life. |