Resumo: Com o objetivo de discutir a questão da perversão na perspectiva da teoria freudiana da sexualidade infantil, procuramos explicitar o caráter fálico da perversão e sua relação com os processos psíquicos que estariam em sua base. Assim, a partir do estudo descritivo dos conceitos envolvidos no tema, o problema levantado consistiu em verificar na perversão se as pulsões, ao invés de colocarem-se a serviço da sexualidade genital adulta, permanecem fixadas ao funcionamento típico da fase fálica. A diversidade de interpretações entre os autores que estudam a perversão no enfoque psicanalítico levou-nos a retomar neste trabalho o estudo das possíveis relações entre as teorias infantis, a fase fálica e o valor narcísico do pênis. A hipótese desenvolvida foi a de que a sexualidade do adulto perverso apresentaria características infantis em razão da fixação na fase fálica, do investimento narcísico subentendido no caráter fálico do Eu e da realidade da castração, tendo como resultado uma dissolução edípica incompleta. Dessa maneira, o mecanismo da renegação seria acionado devido à impossibilidade de renunciar à crença na universalidade do pênis advindo das teorias sexuais infantis. Ao longo das leituras, foi possível observar que entre os anos de 1905 a 1911, a perversão na obra de Freud vincula-se principalmente à multiplicidade e autonomia das pulsões parciais, à descoberta da diferença entre os sexos na fase fálica, associada às teorias sexuais infantis. Entre 1914 a 1923, a perversão é desenvolvida junto ao conceito de narcisismo, à ausência do pênis na mulher e da realidade da castração com a consequente dissolução incompleta do complexo de Édipo. A partir dos anos vinte, principalmente no texto de 1927 sobre o fetichismo Freud elabora o mecanismo da renegação [Verleugnung] da realidade da castração a partir do qual ele chegará a postular a hipótese de uma clivagem do Eu, que explicaria a persistência, no funcionamento psíquico do perverso, de duas correntes paralelas: uma, que responderia à realidade e outra, que continuaria submetida à onipotência narcísica oriunda da fase fálica. Esses resultados trouxeram-nos a compreensão de que, dentro dos limites da abordagem freudiana da perversão, o mecanismo da renegação e a hipótese da clivagem do Eu constituem as bases metapsicológicas necessárias para circunscrever e fundamentar os quadros de perversão.
Abstract: Aiming to discuss the issue of perversion in Freudian theory perspective of infantile sexuality, we explain the phallic perversion and its relation with the psychic processes that would be in its base. Thus, using the descriptive study of concepts involved in the topic, the problem consisted of verifying in the perversion if the pulsions remain attached to the typical operation of the phallic phase, rather than being in the service of adult genital sexuality. The diversity of interpretations among authors who study the perversion in psychoanalytic approach led us to retake the study of the possible relationship between children's theories, the phallic stage and the penis narcissistic value. The hypothesis was that the sexuality of perverse adults would show infantile characteristics because of the fixation on the phallic stage, the narcissistic investment implicit in phallic character of self and the reality of castration, resulting in incomplete dissolution of Oedipal complex. Thus, the mechanism of disavowal would be triggered due to inability to reject the belief of penis universality which arises from infantile sexual theories. Throughout the readings, it was possible to observe that in the period from 1905 to 1911, the perversion in Freud's work is mainly linked to the multiplicity and autonomy of the partial pulsions, the discovery of the difference between sexes in the phallic phase, associated with infantile sexual theories. From 1914 to 1923, perversion is developed together with the concept of narcissism, the absence of the penis in the woman and the reality of castration with consequent incomplete dissolution of Oedipus complex. From the 1920s, especially in the text of 1927 about fetishism, Freud elaborates the mechanism of disavowal [Verleugnung] of the castration reality. From that, he will come to posit the hypothesis of a cleavage of ego, which would explain the persistence of two parallel streams, concerning the psychic functioning of the wicked. One of them would respond to reality and the other would continue to be subjected to narcissistic omnipotence derived from phallic stage. Such results made us realize that, within the limits of Freudian approach of perversion, the mechanism of disavowal and the hypothesis of cleavage of ego, constitute the metapsychological foundations which are necessary to circumscribe and support perversion profile diagnosis. |