Resumo: As experiências que envolvem o cotidiano do indivíduo com câncer consolidam-se como uma ameaça à estabilidade, não só para o paciente, mas para conjuntura familiar como um todo. Ao receber cuidados em seu domicílio, o paciente convive com uma diversidade de sentimentos que emergem da relação paciente-cuidador no cotidiano de cuidados. De tal forma, compreender os sentimentos suscitados no paciente durante o processo de cuidado domiciliar torna-se importante, pois em virtude do câncer, as transformações em sua vida geram a necessidade de atenção. Objetivou-se neste estudo compreender o cotidiano de cuidados de pacientes oncológicos ao vivenciar a assistência oriunda da Atenção Primária à Saúde e de sua família no domicílio. Trata-se de uma pesquisa qualitativa, alicerçada na fenomenologia heideggeriana, sendo entrevistados 20 pacientes atendidos pela Estratégia Saúde da Família de um município do Noroeste do Paraná, entre novembro de 2012 a fevereiro de 2013. Estes foram inquiridos com as seguintes questões: "Como tem sido sua experiência ao ser cuidado por sua família?" e "Co?mo tem sido sua experiência ao ser cuidado pela equipe de saúde?". A análise dos dados foi realizada com base nos passos preconizados por Josgrilberg e os participantes foram codificados com pseudônimos contidos no livro "O diário de Anne Frank" para manter seu anonimato. A realização deste estudo foi previamente aprovada pelo Comitê de Ética e Pesquisa da Universidade Estadual de Maringá, sob Parecer nº435/2011. Os resultados das análises desvelaram os sentimentos dos pacientes com câncer ao vivenciarem duas instâncias do cuidado: aquele recebido na Atenção Primária à Saúde, expresso através das temáticas ontológicas: Convivendo com a impessoalidade dos profissionais de saúde: do diagnóstico ao tratamento e, Encontrando-se com o cuidado libertador; e, o cuidado recebido dos familiares no domicílio, através das temáticas: Permanecendo só ante a presença do outro e Encontrando no amor o fundamento para o cuidado. A interpretação da linguagem dos sujeitos desvelou que frente aos profissionais da Estratégia Saúde da Família, em um modo primário, recebem um cuidado impessoal e inautêntico, no qual o profissional, em um modo fechado de ver o outro, atua com superficialidade no agir cotidiano. Em um movimento de abertura, este pode tornar-se ser-com, preocupando-se com outro de forma que seu cuidado ofereça abertura para a liberdade. O mesmo acontece no âmbito familiar, onde na convivência cotidiana, o familiar muitas vezes ainda está instaurado em um modo inautêntico e permanece junto-a, mas não dá abertura para estar - com o outro. Entretanto, caminhar na impropriedade não é característica estática, mas um enveredar-se em busca da autenticidade, que acontece quando o cuidado emerge do amor e se faz natural, de modo que as atitudes e sentimentos durante o processo de zelo e atenção surgem de um verdadeiro querer. Conclui-se que, ao compreender as fragilidades na atuação frente a pacientes oncológicos, é factível que atitudes impessoais e inautênticas possam transcender a um novo patamar assistencial e que o cuidado domiciliar em consonância com a prática paliativista é capaz de dar "asas?"àqueles que no padecimento visualizaram suas vidas ameaçadas.
Abstract: The day-to-day experience of patients with cancer consolidates itself as a threat to their stability and to their extended family. When patients receive home care, they thrive on a series of feelings that emerge from the patient-caregiver relationship within daily cares. It is thus highly important to understand the patients´ feelings during the home care process since, due to cancer, the transformation in their lives creates the need for care. Current analysis endeavors to understand the daily cares of patients with cancer when they experience care in their own homes from the Primary health Care and from their families. Qualitative research is based on Heidegger´s phenomenology and comprises 20 interviewed patients attended to by the Family Health Strategy of a municipality in the northwestern region of the state of Paraná, Brazil, between November 2012 and February 2013. Patients were asked the following questions: "Tell your experience in being cared for by your family?" and "Tell your experience in being cared for by the health team?" Data analysis followed Josgrilberg and the participants were coded by nom-de-plumes from The Diary of Anne Frank for anonymity. Study was previously approved by the Committee for Ethics in Research of the State University of Maringá, Protocol 435/2011. Analysis results revealed the feeling of patients with cancer when they experienced two care modalities: from the Primary Health Care, by the ontological themes: Experiencing the impersonality of health professionals: from diagnosis to treatment and Meeting the care that frees; and the care given by relatives in home, with two themes: Alone in the presence of the other and Meeting the basis of life through love. The interpretation of the subjects´ discourse revealed that patients received impersonal and inauthentic care from Family Health Strategy professionals as primary care. The health professional assumed a closed mode when facing the other and acted superficially in his/her daily deeds. Within an open attitude, the professional may become a being-with since his/her concern for the other provides an opening towards liberty. The same occurs within the family milieu where, within daily conviviality, the relative is frequently installed as inauthentic and remains together-with but fails to open to being-with the other. However, walking in non-authenticity is not a static characteristic but a pathway towards authenticity. The latter occurs when care flows from love and becomes natural. Consequently, attitudes and feelings during the zeal and care process arise from true willingness. When trying to understanding the weaknesses in their activities with patients suffering from cancer, it is a fact that impersonal and inauthentic attitudes may transcend unto a new assistance level. Further, home care coupled to palliative care is likely to alleviate those who, during suffering, saw their lives threatened.
Resumen: Las experiencias que involucran el cotidiano del individuo con cáncer se consolidan como una amenaza a la estabilidad, no sólo para el paciente, sino que para la coyuntura familiar como un todo. Al recibir cuidados en su domicilio, el paciente convive con una diversidad de sentimientos que emergen de la relación paciente-cuidador en el cotidiano de cuidados. De tal forma, comprender los sentimientos suscitados en el paciente durante el proceso de cuidado domiciliar se vuelve importante, pues en virtud del cáncer, las transformaciones en su vida generan la necesidad de atención. Se tuvo por objetivo en este estudio comprender el cotidiano de cuidados de pacientes oncológicos en la vivencia la asistencia oriunda de la Atención Primaria a la Salud y de su familia en el domicilio. Se trata de una investigación cualitativa, cimentada en el fenomenología heideggeriana, en que fueron encuestados 20 pacientes atendidos por la Estrategia Salud de la Familia de un municipio del Noroeste de Paraná, entre noviembre de 2012 a febrero de 2013. Estos fueron inquiridos con las siguientes cuestiones: "¿Cómo ha sido su experiencia al ser cuidado por su familia?" y "¿Cómo ha sido su experiencia al ser cuidado por el equipo de salud?". El análisis de los datos fue realizado con base en los pasos preconizados por Josgrilberge y los participantes fueron codificados con pseudónimos contenidos en el libro "El diario de Anne Frank" para mantener su anonimato. La realización de este estudio fue previamente aprobada por el Comité de Ética e Investigación de la Universidad Estadual de Maringá, bajo Parecer nº435/2011. Los resultados de los análisis desvelaron los sentimientos de los pacientes con cáncer en la vivencia dos instancias del cuidado: aquel recibido en la Atención Primaria a la Salud, expreso por medio de las temáticas ontológicas: Conviviendo con la impersonalidad de los profesionales de salud: del diagnóstico al tratamiento y, Encontrándose con el cuidado libertador; y, el cuidado recibido de los familiares en el domicilio, por medio de las temáticas: Permaneciendo sólo ante la presencia del otro y Encontrando en el amor el fundamento para el cuidado. La interpretación del lenguaje de los sujetos desveló que frente a los profesionales de la Estrategia Salud de la Familia, en un modo primario, reciben un cuidado impersonal e inauténtico, en el cual el profesional, en un modo cerrado de ver el otro, actúa con superficialidad en el actuar cotidiano. En un movimiento de abertura, este puede volverse- ser-con, preocupándose con otro de forma que su cuidado ofrezca abertura para la libertad. Lo mismo ocurre en el ámbito familiar, en que en la convivencia cotidiana, el familiar muchas veces todavía está instaurado en un modo inauténtico y permanece junto-al, pero no da abertura para estar-con el otro. Sin embargo, caminar en la impropiedad no es característica estática, sino un caminar en la búsqueda de la autenticidad, que sucede cuando el cuidado emerge del amor y se hace natural, de modo que las actitudes y sentimientos durante el proceso de celo y atención surgen de un verdadero querer. Se concluye que, al comprender las fragilidades en la actuación frente a pacientes oncológicos, es factible que actitudes impersonales e inauténticas puedan transcender a un nuevo nivel asistencial y que el cuidado domiciliar en consonancia con la práctica paliativa es capaz de dar "alas?" a aquellos que en el padecimiento visualizaron sus vidas amenazadas. |