Resumo: Esta pesquisa objetivou identificar as possibilidades didático-pedagógicas de um trabalho sistematizado com cálculo mental, de forma dialógica, em Libras, com alunos surdos fluentes, aqui considerados como sujeitos que compreendem e interagem com o mundo por meio de experiências visuais, sendo a língua de sinais, a Libras, a mais importante dessas experiências. O trabalho partiu da seguinte questão investigativa: Quais as estratégias utilizadas pelos alunos surdos em situações didáticas de cálculo mental? A pesquisa foi sustentada teoricamente na Teoria dos Campos Conceituais de Vergnaud; em pesquisas que trataram da especificidade referente à Libras e que abordam o Transtorno de Déficit de Atenção e Hiperatividade (TDAH); em pesquisas realizadas sobre cálculo mental e sobre o Sistema de Numeração Decimal (SND) e as operações elementares do Campo Conceitual Aditivo. A opção metodológica foi a Engenharia Didática, com a aplicação de uma sequência didática composta por dois blocos: o do SND e o Aditivo. Os sujeitos de pesquisa foram três alunos surdos que cursavam o final do 6° ano no início da pesquisa. As principais constatações foram: os sujeitos surdos ainda estavam em processo de construção do SND; a noção dos números 'ad infinitum' relacionada não apenas à extensão da sequência numérica, mas, principalmente, à consolidação das regras deste sistema; a indiferenciação da numeração falada para a numeração escrita constituiu um desafio a ser vencido no bloco do SND; que o surdo, ao realizar a contagem, exige a combinação de diversos elementos, como o gesto da mão para indicar, o olhar e novamente a mão para sinalizar os números e isso, em certos casos, pode dificultar a contagem. As principais estratégias utilizadas se concentraram nisto: identificação da contagem a partir do primeiro número anunciado (não realizando uma sobrecontagem); realização da sobrecontagem com e sem o auxílio dos dedos; o uso da contagem regressiva com e sem auxílio dos dedos; a recorrência a cálculos incorporados no seu repertório numérico; a reprodução mental do algoritmo; a mobilização de regras automatizadas; a aplicação das propriedades dos números e das operações e a realização do cálculo com base na percepção de algumas regularidades dos números anunciados. A dinâmica instaurada favoreceu a atenção, o autocontrole e autoconfiança dos sujeitos surdos diagnosticados com TDAH.
Abstract: This research aimed to identify the didactic and pedagogical possibilities of a systematic work with mental calculation, in a dialogic way using Sign Language (Libras) with fluent deaf students, considered here as individuals who understand and interact with the world through visual experiences, being the Sign language the most important of these experiences. The investigative question was 'What are the strategies used by deaf students in teaching situations of mental calculation? The research was theoretically supported on Vergnaud's Theory of Conceptual Fields; on researches addressing the specificity regarding Sign Language and those addressing Attention Deficit Hyperactivity Disorder (ADHD); on researches on mental calculation and the Decimal Numbering System (DNS), and the elementary operations of the Additive Conceptual Field. The methodology chosen was Didactic Engineering, with the implementation of a didactic sequence composed of two blocks: the DNS and the additive. The research subjects were three deaf students who attended the end of the 6th year at the beginning of the research. The main results were: subjects were still at the building process of DNS, with the notion of the numbers "ad infinitum" related not only to the extension of the numerical sequence, but mainly to the consolidation of the rules of this system; that differentiating between spoken numbering and numbering writing was a challenge to be overcome at the DNS block; the deaf, when counting, require a combination of several elements, such as the hand gesture to indicate, the look and the hand again to signal the numbers and that, in some cases, can make counting difficult. The main strategies they used focused on the following: we observed counting from the first number uttered (not performing an overcounting); perform overcounting with and without the aid of fingers; perform countdown with and without the aid of fingers; use embedded calculations in their numeric repertoire; mentally reproduce the algorithm, using automated rules; apply numbers and operations properties and perform calculations based on the perception of some regularities of the announced numbers. The dynamics employed favored attention, self-control, and self-confidence of deaf individuals diagnosed with ADHD. |