Resumo: O presente estudo visa a explicitar os processos de identificação do sujeito-índio e a produção de sentidos sobre o conhecimento, tendo em vista as práticas discursivas decorrentes do acontecimento da inclusão indígena nas universidades paranaenses. Para tanto, nos inscrevemos na perspectiva teórico-metodológica da Análise de Discurso, tal como desenvolvida por Pêcheux e Orlandi. O nosso material de análise constitui-se das redações produzidas por indígenas Kaingang na IV edição do Vestibular Específico Interinstitucional dos Povos Indígenas no Paraná (2005), meio pelo qual se dá a inclusão. Para a análise desse material, foi necessário mobilizar outros textos, que passaram também a constituir nosso corpus: o Manual do Candidato, a Prova de Redação, a Prova Oral, as falas dos candidatos, textos de outras edições desse vestibular. Este procedimento funda-se no pressuposto de que é na relação entre essas diversas práticas discursivas que sujeitos e sentidos se constituem. Em nossas análises vimos que o modo como o acontecimento discursivo da inclusão indígena se materializa (na forma de uma lei estadual) instaura uma relação tensa entre o local (Paraná) e o nacional (Brasil), a unidade e a diversidade, cujos efeitos têm seus desdobramentos tanto pela mudança da nomeação do próprio processo Vestibular, quanto pela própria nomeação das línguas, instaurando-se, assim, modos de interpelação do indivíduo em sujeito e lugares de identificação para o sujeito-índio na relação com o Estado, com a escrita e com a oralidade. Na discursividade das redações, sujeitos e sentidos se constituem a partir de duas posições: uma indígena e outra ocidental. Na primeira posição, o conhecimento é significado como natural, social, coletivo em relação à memória de um passado, memória esta que é convocada pela metáfora da luta, sentido organizado pela presença de uma rede parafrástica que tem como eixo a relação conhecimento/arma. Essa memória do passado, que parece funcionar como o eterno, o fundante histórico do índio, atua na constituição desse sujeito-índio do presente. Na segunda posição, o conhecimento é significado, na relação com o presente, como algo que é da ordem do científico e institucional. Finalmente concluímos que o acontecimento discursivo da inclusão vai se constituindo por práticas discursivas que se produzem na relação entre o presente e uma memória e instauram a possibilidade de construção de um lugar de identificação de entremeio para o sujeito-índio e um novo sentido para seus saberes na relação com o Estado e com a diversidade.
Abstract: The identification process of the Indian subject and the production of meanings on knowledge are provided with regard to discourse practices of Indian inclusion in government universities of the state of Paraná, Brazil. The theoretical and methodological perspective of Discourse Analysis, developed by Pêcheux and Orlandi, has been adopted in current analysis. Essays produced by Kaingang Indians at the Fourth University Entrance Exam for Indian Peoples of the state of Paraná (2005) through which inclusion occurred have been analyzed. Other texts, such as the Candidate's Handbook, Essay Exam, Oral Exam, conversations with candidates, texts from other previous editions of Indian Entrance Exam, were also employed to analyze the above material and integrated current corpus. Procedures have been based on the fact that subjects and meanings constitute themselves on the relationships between different discursive practices. The manner Indian discourse inclusion takes place (through a State law) causes a tense relationship between the local (the state of Paraná, Brazil) and the national (Brazil), between unity and diversity, whose effects develop by means of changes in the name of the Entrance Exam and in languages. The individual has thus been interpellated as subject and place of identification for the Indian subject with regard to the State, to writing and to orality. Within the essays' discursive condition, subject and meaning constitute themselves through Indian and Western stances. In the former, knowledge is natural, social and collective with regard to memory of the past. Memory is, in fact, recalled by the struggle metaphor which is organized by the presence of a paraphrase network whose axis lies in the knowledge/weapon relations. Memory of the past, which seems to function for ever, the founding history of the Indian, functions in the constitution of the current Indian subject. In the latter, knowledge is the current meaning within the scientific and institutional condition. Data show that inclusion discourse events constitute themselves through discursive practices that produce themselves between the present and memory. They also install the possibility of a construction from an in-between identification site towards the Indian subject and a new meaning for its knowledge with regard to the State and diversity. |