Resumo: A Idade Média é um período de questionamentos quanto à definição do homem e o seu papel entre seus semelhantes. Este trabalho tem em vista situar a figura da feiticeira no universo místico das narrativas de cavalaria, evidenciando as diferentes descrições e abordagens das personagens consideradas bruxas, no intuito de revelar comportamentos que as colocam em posição diversa da mulher medieval. É avaliada a importância histórica que o período medieval possui no panorama da evolução humana, através da focalização do papel das mulheres na criação e patrocínio das artes, as novelas de cavalaria, retratando a realidade social dos séculos medievais, bem como a figura mística da feiticeira e suas possíveis interpretações. O corpus da pesquisa refere-se às obras: Amadis de Gaula e A Demanda do Santo Graal. De cunho bibliográfico, a investigação fundamenta-se na leitura e resenha de textos teóricos, críticos, analíticos e históricos que propiciem suporte à pesquisa. Na análise literária, serão destacados os elementos estruturais da narrativa, com enfoque no estudo da personagem, distinguindo-se a figura histórica da mulher medieval da figura histórica e literária da feiticeira ou bruxa. Segundo estudiosos, a certeza de as mulheres eram seres demoníacos foi conceito configurado na demonologia, que favoreceu a construção da imagem das bruxas no inconsciente popular do medievo. Assim, o reverso da figura feminina está representado na Demanda do Santo Graal, cuja temática religiosa apresenta-se mais premente e a misoginia medieval mais aparente. Na obra Amadis de Gaula não se pode atribuir essa mesma imagem às feiticeiras, uma vez que o sobrenatural ocorre de forma natural, denotando um resgate pacífico dos valores folclórico-pagãos. A semelhança com a realidade contribui para que a verossimilhança assuma o papel de credibilidade sobre as personagens. A maior similaridade de uma personagem feiticeira com as concepções reais da feiticeira medieval reveste a obra de um singular e fictício registro documental de costumes.
Abstract: Middle Age is a period full of questions about man definition and his role among others. The aim of this paper is centered on the figure of sorceresses in the mystic universe of cavalry narratives. Both different descriptions and approaches of characters considered as witches are presented in order to reveal behaviors that distinguish them from medieval women. It is necessary to appraise the historic meaning of this period in human evolution context, focusing women role in creation and improvement of arts, cavalry romances that portray social reality from Middle Ages and also the mysterious figure of sorceresses and their possible interpretations. The corpus of this paper is: Amadis de Gaula and A Demanda do Santo Graal. As a bibliographic study, all investigation is based on theoretical, critical and historic texts. The structural elements of narrative will be presented in literary analysis, focusing character study. The historical medieval woman will be pointed out in contrast with historical and literary figure of sorceresses. According to some scholars, witches were considered as evil women and this idea is related to demonology which favored the construction of the witch image in medieval mind. Thus, a feminine reverse is represented in A Demanda do Santo Graal, whose religious thematic is intense and medieval misogyny more visible. In Amadis de Gaula it is not possible to attribute the same image to the sorceress because all supernatural elements occur in a natural way. This reflects a pacific retaking of pagan values. The resemblance with real life helps verisimilitude to get credibility over the characters. A great similarity of a witch character with real conceptions about medieval sorceresses or witches gives the romances a unique and fictional documental sign of traditions. |