Resumo: O objetivo proposto para esta pesquisa foi compreender o processo de construção de sentidos para o sujeito-criança e sujeito-adolescente em contextos de criminalidade e violência, através da análise dos documentários: Falcão: meninos do tráfico e Ônibus 174. Nosso estudo priorizou explicitar o modo como sentidos e subjetividades são construídos por meio de mecanismos simbólicos, considerando a relação entre materialidades discursivas verbais e imagéticas. Os mecanismos simbólicos são aqui considerados à luz da teoria da Análise de Discurso (AD), em relação ao real e imaginário, apoiando-nos, principalmente, em Pêcheux e Orlandi, que remetem o discurso ao jogo da língua (sujeita a falhas) na história (lugar da contradição), pensando a ideologia em sua constituição. O conceito de discurso complexo, proposto por Zen (2007) também nos fornece um suporte para pensar a relação entre as diferentes materialidades. Nesse sentido, tomamos os documentários como discurso complexo, analisando a relação entre o verbal e a imagem como lugar de produção de sentidos e de subjetividades. Em nosso processo analítico, observamos que o modo como cada documentário constrói sentidos para os sujeitos considerados é diferenciado, tendo em vista as diferentes condições de produção de cada produção e o modo como o termo meninos, presente nos dois filmes, ganha sentidos na historicidade do dizer. Em Falcão: Meninos do Trágico, os sentidos são produzidos por um sujeito-autor que pertence à favela e que expõe vozes que falam de dentro do tráfico. No interior do tráfico, o sujeito-menino é significado como fragmento e inumano, sua condição de
criança é reconhecida, para, em seguida, ser negada, no contexto do crime. Por sua vez, em Ônibus 174 o sujeito-autor expõe várias vozes que falam do lugar de fora da criminalidade. Ao ressignificar a discursividade da mídia, o adolescente é subjetivado como vítima, lugar a partir do qual ele passa a ser interpretado como alguém que precisa de cuidados. Da perspectiva desses filmes, a exclusão social materializa-se como o processo de significação produzido em relação aos sujeitos: excluídos enquanto sujeitos de direito no contexto da criminalidade, sua visibilidade enquanto crianças ou adolescente é (quase) apagada. Mas, pelas falhas, pela contradição, outros lugares também estão sendo produzidos nesses espaços simbólicos, o que nos faz pensar que sujeitos e sentidos podem se movimentar na história e vir a ocupar novos lugares.
Résumé: L'objectif que l'on propose dans cette recherche c'est de comprendre le procédé de construction du sens pour le sujet-enfant et pour le sujet-adolescent dans des contextes de criminalité et de violence, en analysant les documentaires: Falcão: meninos do tráfico et Ônibus 174. Dans notre étude, notre priorité est de montrer la construction du sens et de la subjectivité par des mécanismes symboliques, tout en considérant la relation entre matérialité verbale et imagétique. Les mécanisme symboliques sont ici considérés à partir de la théorie de l'Analyse du Discours (AD), tout en gardant la relation au réel et à l'imaginaire et ayant comme appui principalement les théoriciens Pêcheux et Orlandi, qui renvoient le discours au jeu de la langue (qui peut avoir de fautes) dans l'histoire (lieu d'équivoques), en pensant l'idéologie dans sa constitution. Le concept de discours complexe, qui propose Zen (2007) nous donne aussi dês supports pour penser la relation entre les différentes matérialités. Dans ce sens l'on prend les documentaires comme discours complexe, en analysant la relation entre lê verbal et l'image comme lieu de production de sens et de subjectivités. Dans notre analyse, lon observe que la façon dont chaque documentaire construit les sens pour lês sujets considérés est différent, en considérant les différentes conditions de production de chacun et la façon dont le terme enfants, présent dans les deux films, gagne du sens dans l'historicité du dire. Dans Falcão: Meninos do Tráfico, les sens sont produits par un sujet-auteur qui appartient au monde de la favela et qui montre des voix qui parlent en tenant comme réalité le trafic. De ces lieux, où le sujet-enfant est signifié comme fragment et inhumain, sa condition d'enfant est reconnue, pour, après, être niée, dans le contexte du crime. Par-contre, en Ônibus 174, le sujet-auteur expose plusieures voix qui parlent en dehors de la criminalité. En resignifiant la discoursivité des médias, l'adolescent est subjectivé comme victime, lieu à partir duquel, lui, il passe à être interprété comme quelqu'un qui a besoin des soins. La perspective de ces films, l'exclusion sociale se matérialise comme le procédé de signification produit en relation à des sujets: exclus en tant que sujets de droits dans le contexte de la criminalité, as visibilité comme enfants ou adolescents est (presque) nule. Toutefois, pour le manque, pour l'équivoque, d'autres lieux sont aussi produits dans ces espaces symboliques, ce qui nous fait penser que sujets et sens peuvent se mouvoir dans l'histoire et y occuper de nouveaux lieux. |