Resumo: A perspectiva desconstrucionista questiona alguns conceitos tradicionalmente relacionados à tradução, como: a (im) possível essencialidade de um texto original e a consequente recuperação de um sentido fixo e determinado. Nessa medida, a reflexão pós-moderna entende a tradução não como um mecanismo de transferência de significado de uma língua para outra, mas como um processo de construção e relações de sentido, uma reenunciação, um novo texto. Por esse viés, a tradução é entendida como uma atividade interpretativa fortemente associada a fatores histórico-sociais, culturais e ideológicos em que os significados são produzidos por um sujeito tradutor-leitor situado em um tempo e lugar. Nessa perspectiva o objetivo da nossa pesquisa foi analisar a tradução para legendagem em língua inglesa do documentário ?Lixo Extraordinário? a partir de uma perspectiva discursivo-desconstrucionista da tradução. Os objetivos específicos consistiram em analisar de que modo os aspectos culturais brasileiros são transmitidos, mantidos ou transformados na tradução para a língua inglesa, com base nas escolhas do tradutor; discutir e problematizar se as escolhas do tradutor podem influenciar na construção de nova identidade do sujeito catador e compreender e discutir os aspectos ideológicos inerentes ao discurso no processo de tradução. A justificativa desta pesquisa está baseada na produção de um trabalho que venha contribuir para os Estudos da Tradução sob a ótica da Análise do Discurso, enfocando a modalidade tradução para legendas, acrescentando informações e aprofundando os estudos acerca desse ramo da tradução que certamente vem se expandindo. As análises reiteram os dizeres pós-modernos sobre tradução de que aspectos culturais e ideológicos são inerentes ao processo tradutório, um novo texto, cujos sentidos são construídos em um jogo de relações, no qual a voz do tradutor está sempre presente. Ademais, observamos que as escolhas tradutórias são capazes de construir efeitos de sentido, inclusive efeitos de identidade diferentes daqueles produzidos a partir do texto de partida, nos levando a conceber a tradução como um instrumento que age em sociedade capaz de transformar culturas e (re) construir identidades.
Abstract: The deconstruction perspective questions many concepts traditionally related to translation, such as potential essentiality of original texts and the possibility of retrieving determined and steady meanings from them. Thus, postmodernism does not conceive translation as a transfer mechanism, in which meaning is transmitted from one language to another, but as a process in which meaning is built and correlated, a re-enunciation, and a new text. From this point ofview, translation is construed as an interpretative activity, strongly associated with historical, social, cultural and ideological issues, in which meaning is produced by a translator who is a reader situated at a specific time and place. Hence, this research aimed at analyzing the English subtitles of the documentary Waste Land (translated into Brazilian Portuguese as Lixo Extraordinário) from a discursive-deconstructionist translation point of view. In particular, this study aimed at analyzing whether Brazilian cultural aspects are transmitted, maintained or transformed in the translation process, based on the choices made by the translator; reflecting and discussing whether the translator's choices may influence the identity construction of the picker; and also discussing the inherent ideological aspects in the translation process. This thesis is based on the need of producing a research that may contribute to the Translation Studies field, within the scope of Discourse Analysis, focusing on the translation process of subtitles, adding information as well as deepening the studies on this kind of translation that has certainly expanded. Our analyses corroborate the post-modern claims that cultural and ideological aspects are inherent in the translation process, considered as a new text of which meanings are produced within a series of relations established among them and where the translator?s voice is always present. Moreover, our analyses show that the translator?s choices are able to produce effects of meaning which may be different from those produced by the source text, including effects of identity. These findings lead us to conceive translation as a socially active instrument, capable of transforming cultures and (re) building identities. |