Resumo: O trabalho do docente atuante nas escolas públicas de ensino fundamental e médio é cada vez mais permeado por demandas sociais e burocráticas que tem como consequências extensas jornadas de trabalho que, frequentemente, estendem-se para além do horário de expediente. A sobrecarga de trabalho e as precárias condições estruturais dos estabelecimentos escolares da rede pública são apontadas como agentes potencialmente geradores de estresse entre docentes. Caracterizado por conjuntos inespecíficos de sintomas fisiológicos, psicológicos e sociais, o estresse costuma ter como uma de suas consequências a redução da resistência do organismo às doenças profissionais decorrentes da exposição a condições e agentes insalubres (pó de giz, poeira, fungos, toner, ruído, extremos de temperatura) e do esforço requerido pela profissão (uso intensivo da voz, movimentos repetitivos, postura inadequada mantida por períodos extensos). O desconforto causado por tais doenças torna-as, além de consequências, também estímulos capazes de acentuar o estresse docente, iniciando um ciclo no qual o estresse facilita a doença e esta, por sua vez, facilita o estresse. Se mantido por períodos prolongados, este ciclo somente pode ser rompido com o auxílio de profissionais da área da saúde porém, se percebido em seus estágios iniciais, ações destinadas à eliminação/redução de agentes estressores e/ou ao restabelecimento das energias do indivíduo, denominadas estratégias de enfrentamento, são capazes de impedir o desenvolvimento de estresse patológico, além de preservar a saúde e o desempenho dos educadores. Uma característica comum a muitas das estratégias de enfrentamento citadas na literatura é a necessidade de conhecimento a respeito das próprias estratégias de enfrentamento, mas também do estresse, suas causas e consequências. Nesse sentido, a criação e o compartilhamento de conhecimento a respeito do estresse nas escolas públicas teria potencial para mitigar seus efeitos negativos sobre a saúde dos professores. Isto posto, o presente estudo propõe a análise das possíveis relações entre a dinâmica de criação e compartilhamento de conhecimento denominada "Espiral do Conhecimento" ou "modelo SECI" (Socialização, Externalização, Combinação, Internalização) e as estimativas do nível de estresse de educadores que atuam em cinco estabelecimentos públicos de ensino ofertantes da modalidade de educação profissional na cidade de Foz do Iguaçu (PR). Esta pesquisa faz uso de técnicas qualitativas (grupos de foco, observação direta e análise documental) para obter dados contextuais e experienciais com respeito à vivência de estresse dos pesquisados, que serão usados para a criação de um questionário cujos dados visam à obtenção de uma estimativa numérica do nível de estresse dos educadores em questão e desvendar suas relações com a Espiral do Conhecimento, estratégias de enfrentamento e estressores. Os resultados mostram uma relação positiva entre a presença de atitudes relacionadas à Espiral do Conhecimento e as estimativas de estresse dos educadores, provavelmente decorrente da predominância dos processos de Socialização e Internalização sem o suporte dos processos organizacionais de Externalização e Combinação.
Abstract: In public brazillian's middle and high schools, the work of teachers is pervaded by increasing social and bureaucratic demands, forcing teachers face long working hours which frequently extends beyond school time. Work overload and poor structural resources are pointed as potentially stress-generating conditions faced by teachers who work in public schools. Among the inespecific sets of physiological, psychological and social symptoms characteristic to stress, the reduction of immunological response is a typical one, rendering teachers vulnerable to occupational diseases resulting from exposure to unhealthy conditions and agents (e.g., chalk powder, dust, mold, toner, noise, heat/cold) and from the efforts characteristic to the profession (e.g., intensive talking, repetitive movements, inappropriate posture sustained for long time). The resulting discomfort of such diseases makes them both a result and a source of stress, starting a cycle in which stress facilitates the emergence of diseases and the diseases generates higher stress levels. If sustained for long time, professional aid (e.g. medical/psychological) will be required to stop this cycle. If detected in its early stage, however, actions aimed to eliminate/mitigate stressors and/or to reestablish an individual's energy, called coping strategies, can be capable of stop the evolution to a pathological level of stress, preserving teacher's health and performance. Knowledge about the coping strategies, as well as knowledge about stress and its causes and consequences, is a common feature in the literature about coping strategies. That said, could knowledge creation and sharing mitigate the adverse effects of stress on teacher's health? This research aims to analyze potential relations between the knowledge creation and sharing approach called SECI Model (Socialization, Externalization, Combination, Internalization) and estimated stress levels of teachers working in five public middle and high schools in Foz do Iguaçu (Brazil) which offer technical education courses. This study uses qualitative research techniques (e.g., focal groups, direct observation and document analysis) to access contextual and experiential data about teacher's subjective experiences of stress. Such data will be used to support the development of a self-administered questionnaire which data will be used to estimate the stress levels of the respondents and reveal its eventual relations with attitudes related to the SECI model. The results show a positive relation between attitudes related to the SECI model and the participant's estimated stress levels, probably due to the prevalence of Socialization and Internalization processes without support of organizational Externalization and combination processes. |