Resumo: A depressão consiste em uma doença multifatorial, complexa e de sintomatologia diferenciada. Em casos de depressão refratária resistente ao tratamento, antipsicóticos atípicos vêm sendo associados, aos antidepressivos, na clínica, no intuito de melhorar a resposta dos pacientes ao tratamento. Um mecanismo de ação neurogênica vem sendo proposto para fármacos com atividade antidepressiva. A miricitrina (MIRI) é um flavonóide extraído de várias plantas do gênero Eugênia, com perfil de antipsicótico atípico. Os mecanismos de ação propostos para a MIRI incluem inibição da síntese de óxido nítrico (NO) e da proteína quinase C (PKC). Considerando que a inibição do NO pode também gerar efeito antidepressivo, e que antipsicóticos atípicos podem ser utilizados por sua ação antidepressiva, o presente estudo teve como objetivo avaliar o efeito do tratamento repetido com a MIRI em um modelo animal preditivo de atividade antidepressiva e analisar a influência deste sobre a neurogênese adulta. Camundongos Balb/C machos foram tratados, intraperitonealmente, com MIRI durante 21 dias. Após o término do tratamento repetido os animais foram submetidos ao teste do campo aberto e, em seguida, ao teste de suspensão pela cauda (TSC). Um segundo grupo de animais foi tratado com MIRI durante 28 dias e submetidos aos mesmos testes comportamentais. A seguir os cérebros dos animais foram removidos para análise imuno-histoquímica de detecção de imunoreatividade para os marcadores celulares de proliferação (Ki67), neurogênese (DCX), sobrevivência (BrdU) e diferenciação celular (NeuN e GFAP). A administração repetida de 21 dias de MIRI foi capaz de diminuir a imobilidade dos animais no TSC, sem, entretanto, alterar a atividade locomotora. Além disso, a MIRI aumentou a proliferação celular e o número de células DCX-positivas na zona subgranular do giro denteado hipocampal, o que indica um aumento de neurogênese hipocampal. Foi observada, ainda, uma maior diferenciação das células sobreviventes em neurônios. Nossos dados demonstraram que o tratamento repetido com a MIRI resultou em ação tipo-antidepressiva, mediada, pelo menos em parte, pela geração de novos neurônios no hipocampo de camundongos.
Abstract: Depression consists of a multifactorial and complex disease, with differentiated symptoms. In cases of refractory depression resistant to treatment, atypical antipsychotics have been associated with antidepressants, in order to improve the response of patients to treatment. A neurogenic mechanism has been proposed for drugs with antidepressant activity. Myricitrin (MIRI) is a flavonoid extracted from various plants of Eugenia genus and presents an atypical antipsychotic profile. The mechanisms proposed for this therapeutics effects include inhibition of nitric oxide (NO) and protein kinase C (PKC) synthesis. Since the inhibition of NO can also produce antidepressant effect, and the atypical antipsychotics may be used as an antidepressant drug, this study aimed to evaluate the effect of repeated treatment with MIRI in an animal model of predictive antidepressant activity and the influence of this on adult neurogenesis. For this, Balb/C male were treated, intraperitoneally, with MIRI during 21 and/or 28 days respectively. After the repeated treatment the animals were subjected to the open field test and the tail suspension test (TST). At the end of the behavioral tests the animals were sacrificed and their brains were removed for immunohistochemical analysis to detect immunoreactivity of cell markers of proliferation (Ki67), neurogenesis (DCX), survival (BrdU) and differentiation (NeuN and GFAP). The repeated treatment of 21 days was able to decrease the immobility time of the animals in the TST without alteration of locomotor activity. MIRI treatment increased the cell proliferation and the number of doublecortin-positive cells in the subgranular zone of the dentate gyrus in the hippocampus, which indicates an increase in hippocampal neurogenesis. Furthermore, the most of the survival cells were differentiated in neurons. Our data demonstrated that repeated treatment with MIRI resulted in antidepressant-like effect, mediated at least in part, by the generation of new neurons in the hippocampus of mice. |