Resumo: Os ambientes de água doce são os mais vulneráveis às alterações climáticas e, as projeções de aumento da temperatura para as próximas décadas, trazem um cenário desfavorável para organismos aquáticos. O aquecimento, quando combinado com disponibilidade de nutrientes, pode desencadear interações ainda mais complexas no funcionamento das teias alimentares microbianas. O objetivo deste estudo foi avaliar a influência do aquecimento e da disponibilidade de recursos proveniente de detritos na estrutura das comunidades da microbiota aquática de água doce (riqueza, densidade e diversidade beta), usando microcosmos naturais (bromélias-tanque) como sistema modelo. O aquecimento foi simulado com as projeções de aumento da temperatura para as próximas décadas seguindo o Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas. A massa seca (g) de matéria orgânica particulada grosseira (CPOM) de cada bromélia foi usada como medida para a disponibilidade de recurso (biomassa de detritos). A biomassa de detritos causou efeito negativo sobre a densidade de algas e da microfauna, e para a riqueza total de algas. A biomassa de detritos explicou a variação para quase todos os componentes da diversidade beta da microfauna, exceto para o componente replacement (βrepl), em que o aquecimento foi responsável por essa variação. Para as algas a interação entre aquecimento e biomassa de detritos foi o mais importante para explicar a variação da beta total e βrepl, enquanto que para o componente de diferença de riqueza (βrich) essa variação foi explicada apenas pela biomassa de detritos. Em síntese, os resultados obtidos indicam que o aquecimento e o aumento da biomassa de detritos atuaram fortemente na estruturação das comunidades, reduzindo a densidade e a riqueza da microbiota aquática. Outrossim, os resultados trazem evidências de que a temperatura pode aumentar a dissimilaridade das comunidades de grupos de organismos da parcela heterotrófica (microfauna), principalmente por substituição de espécies.
Abstract: Freshwater environments are the most vulnerable to climate change, and projected increases in temperature over the coming decades bring an unfavorable scenario for aquatic organisms. Warming, when combined with nutrient availability, can trigger even more complex interactions in the functioning of microbial food webs. The aim of this study was to evaluate the influence of warming and resource availability from detritus on the community structure of freshwater aquatic microbiota (richness, density and beta diversity) using natural microcosms (tank bromeliads) as a model system. Warming was simulated with temperature increase projections for the next decades following the Intergovernmental Panel on Climate Change. The dry mass (g) of coarse particulate organic matter (CPOM) from each bromeliad was used as a measure for resource availability (detritus biomass). Detritus biomass caused a negative effect on algal and microfauna density, and for total algal richness. Detritus biomass explained the variation for almost all components of microfauna beta diversity, except for the replacement component (βrepl), where warming was responsible for this variation. For algae the interaction between warming and detritus biomass was most important in explaining the variation in total beta and βrepl, while for the richness difference component (βrich) this variation was explained only by detritus biomass. In summary, the results obtained suggest that warming and increased detritus biomass acted strongly on the structuring of the communities, reducing the density and richness of the aquatic microbiota. Furthermore, the results provide evidence that temperature can increase the dissimilarity of communities of groups of organisms in the heterotrophic plot (microfauna), mainly by species substitution. |